terça-feira, 29 de março de 2016

Os Três Mil Imaculados de Qohor | Game Of Thrones

Os Imaculados são soldados eunucos, treinados desde jovens em Astapor para ter obediência inquestionável e grande habilidade marcial. Eles são usados como guardas por todas as Cidades Livres, também são vendidos as centenas e milhares. Eles são excelentes vigilantes e soldades, não saqueiam e não estupram. Eles adoram uma deusa particular cujo nome é mantido em segredo, sendo apenas sabido que ela é chamada de Senhora das Lanças e Noiva da Batalha. Eles são famosos pela Batalha de Qohor, na qual uma força de três mil Imaculados manteve cinquenta mil dothrakis fora de suas muralhas. Somente seiscentos imaculados sobreviveram tendo matado, ao todo, doze mil dothrakis. Para honrar os Imaculados, o khalasar Dothraki cavalgou em frente deles, em linha, e todos cortaram as tranças dos cabelos, em sinal de derrota.

Leia uma parte do livro (Game Of Thrones) que fala com mais detalhes sobre os Imaculados:

-Os Imaculados que podem ter visto em Pentos e Myr eram guardas domésticos. Isso é serviço leve e, em todo caso, os eunucos tendem a engordar. A comida é o único vício que lhes é permitido. Julgar todos os Imaculados por uns poucos velhos escravos domésticos é como julgar todos os escudeiros por Arstan Barba-Branca, Vossa Graça. Conhece a história dos Três Mil de Qohor?
-Não. - A colcha deslizou do ombro de Dany, e ela voltou a colocá-la no lugar.
-Foi há quatrocentos anos ou mais, quando os dothraki chegaram pela primeira vez do leste, saqueando e incendiando todas as vilas e cidades que encontravam pelo caminho. O khal que os liderava chamava-se Temmo. Seu khalasar não era tão grande quanto o de Drogo, mas era grande o suficiente. Cinqüenta mil, pelo menos, metade dos quais era de guerreiros com campainhas tinindo em suas tranças, "Os Qohorik sabiam que ele estava a caminho. Fortaleceram as muralhas, duplicaram o tamanho de sua guarda e contrataram ainda duas companhias livres, os Brilhantes Estandartes e os Segundos Filhos. E, quase como uma idéia de última hora, enviaram um homem a Astapor para comprar três mil Imaculados. Mas era uma longa marcha de regresso a Qohor e, quando se aproximaram, viram fumaça e poeira e ouviram o estrondo distante da batalha.


 
"Quando os Imaculados chegaram à cidade, o sol tinha se posto. Corvos e lobos banqueteavam-se à sombra das muralhas com aquilo que restava da cavalaria pesada de Qohor. Os Brilhantes Estandartes e os Segundos Filhos tinham fugido, como os mercenários costumam fazer quando se defrontam com desvantagens insuperáveis. Com a escuridão caindo, os dothraki tinham se retirado para os seus acampamentos, a fim de beber, dançar e banquetear-se, mas ninguém duvidava de que retornariam de manhã para esmagar as portas da cidade, assaltar as muralhas e violar, saquear e escravizar a seu bel-prazer. "Mas quando rompeu a alvorada e Temmo e seus companheiros de sangue saíram do acampamento à frente do khalasar, foram encontrar três mil Imaculados imóveis diante dos portões, com o estandarte da Cabra Negra esvoaçando sobre as suas cabeças. Uma força tão pequena podia ter sido facilmente flanqueada, mas conhece os dothraki. Aqueles homens estavam a pé, e homens a pé só servem para ser atropelados. "Os dothraki investiram. Os Imaculados ergueram os escudos, baixaram as lanças, e suportaram. Contra vinte mil homens aos gritos, com campainhas nos cabelos, agüentaram. "Dezoito vezes os dothraki investiram, e quebraram-se contra aqueles escudos e lanças como ondas em uma costa rochosa. Três vezes Temmo mandou seus arqueiros cercarem os Imaculados, e flechas choveram como chuva sobre eles, mas os Três Mil limitaram-se a erguer os escudos sobre a cabeça até a tempestade passar. Por fim, só restaram seiscentos deles... mas mais de doze mil dothraki jaziam mortos naquele campo de batalha, incluindo Khal Temmo, seus companheiros de sangue, seus kos e todos os seus filhos. Na manhã do quarto dia, o novo khal levou os sobreviventes em uma imponente procissão junto aos portões da cidade. Um por um, todos os homens cortaram as tranças e arremessaram-nas aos pés dos Três Mil. "Desde esse dia, a guarda urbana de Qohor é composta unicamente de Imaculados, e todos usam uma grande lança, da qual pende uma trança de cabelo humano. "
Isto é o que encontrará em Astapor, Vossa Graça. Acoste lá, e prossiga até Pentos por terra. Levará mais tempo, sim... mas quando dividir a mesa com o Magíster Illyrio, terá mil espadas atrás de si, e não apenas quatro."

segunda-feira, 28 de março de 2016

Night Fort: Cozinheiro Ratazana | Game Of Thrones

Cozinheiro Ratazana é um infame membro da Patrulha da Noite. A história esquecera seu nome verdadeiro.
De acordo com a lenda, o homem, que mais tarde seria conhecido como Cozinheiro Ratazana, era um simples cozinheiro em Fortenoite. Ele se tornara infame quando servira a um Rei Ândalo um empadão, que era feito de bacon e, sem que o Rei soubesse, do próprio filho do Rei. O Cozinheiro matara o filho do Rei, um Príncipe, para vingar-se de um erro que, supostamente, o Rei fizera com ele. O Rei, ignorante do fato, elogiou o sabor e pediu para repetir. Os deuses, mais tarde, bravos pelo cozinheiro ter assassinado um hóspede sob seu telhado, amaldiçoaram-no, e transformaram-no em uma monstruosa ratazana branca, que só podia comer os próprios filhos. 

Segundo a história, ele é uma enorme ratazana branca, e todos os outros ratos que habitam Fortenoite são seus descendentes.
Tal é a infâmia do conto, que há uma canção sobre o Cozinheiro Ratazana que ainda é cantada nos Sete Reinos, apesar do fato de que este incidente, supostamente, acontecera centenas de anos antes do desembarque de Aegon. A canção é usada para representar as repercussões àqueles que violam as leis sagradas da hospitalidade nos Sete Reinos, que são conhecidas como o direito de hóspede.

Leia a seguir a parte do livro (Game Of Thrones) que conta esta história detalhadamente:


- Este parece um lugar antigo - disse Jojen enquanto atravessavam uma galeria onde a luz do sol caía em feixes poeirentos através de janelas vazias. - E duas vezes mais velho do que Castelo Negro - disse Bran, recordando. - Foi o primeiro castelo da Muralha, e também o maior. - Mas também foi o primeiro a ser abandonado, ainda no tempo do Velho Rei. Mesmo então, três quartos dele já se encontravam vazios, e era muito dispendioso mantê-lo. A Boa Rainha Alysanne sugeriu que a Patrulha o substituísse por um castelo menor e mais novo, num local a apenas onze quilômetros para leste, onde a Muralha se curvava ao longo da margem de um belo lago verde. Lago Profundo foi pago pelas jóias da rainha e construído por homens que o Velho Rei enviou para o norte, e os irmãos negros entregaram Fortenoite às ratazanas. Mas isso havia sido dois séculos antes. Agora, Lago Profundo estava tão vazio como o castelo que tinha substituído, e Fortenoite... - Há fantasmas aqui - disse Bran. Hodor já tinha ouvido todas as histórias, mas Jojen talvez não. - Fantasmas velhos, de antes do Velho Rei, de antes até de Aegon, o Dragão, setenta e nove desertores que foram para o sul a fim de se tornarem fora da lei. Um deles era o filho mais novo de Lorde Ryswell, e por isso, quando chegaram às terras acidentadas, procuraram refúgio em seu castelo, mas Lorde Ryswell aprisionou-os e devolveu-os a Fortenoite. O Senhor Comandante mandou abrir buracos no topo da Muralha, enfiou neles os desertores e selou-os no gelo, vivos. Têm lanças e berrantes e estão todos virados para o norte. Chamam-se as setenta e nove sentinelas. Abandonaram seus postos em vida, portanto, na morte, sua vigília dura para sempre. Anos mais tarde, quando Lorde Ryswell já estava velho e moribundo, fez que o trouxessem para Fortenoite para poder vestir o negro e ficar junto do filho. Enviara-o de volta para a Muralha por uma questão de honra, mas ainda o amava, por isso veio acompanhá-lo na vigília. Passaram metade do dia esquadrinhando o castelo. Algumas das torres tinham desmoronado, e outras pareciam pouco seguras, mas subiram à torre sineira, onde não havia sinos, e à colônia dos corvos, onde não havia corvos. Sob a cervejaria, encontraram uma adega de enormes barris de carvalho que trovejavam ocamente quando Hodor batia neles com os nós dos dedos. Encontraram uma biblioteca onde as prateleiras e os escani- nhos tinham desabado, não havia livros, mas era possível encontrar ratazanas por todo lado. Acharam uma masmorra úmida e fracamente iluminada, com celas suficientes para quinhentos cativos, mas quando Bran pegou numa das barras enferrujadas, ela partiu-se na sua mão. Só restava uma parede em ruínas no grande salão, a casa de banhos parecia estar se afundando no chão, e um enorme espinheiro conquistara o pátio de treinos em frente ao arsenal, onde irmãos negros um dia tinham trabalhado com lanças, escudos e espadas. No entanto, o arsenal e a forja ainda se mantinham em pé, embora as teias de aranha, as ratazanas e a poeira tivessem ocupado o lugar das lâminas, dos foles e da bi- gorna. As vezes, Verão ouvia sons aos quais Bran parecia surdo, ou mostrava os dentes a coisa nenhuma, com o pelo do cangote eriçado... mas o Cozinheiro Ratazana não chegou a aparecer, e as setenta e nove sentinelas e o Machado Louco também não. Bran sentiu-se muito aliviado. Talvez seja apenas um castelo vazio em ruínas. Quando Meera regressou, o sol era somente o fio de uma espada acima dos montes ocidentais.



 - O que foi que viu? - perguntou-lhe o irmão Jojen. - Vi a floresta assombrada - disse ela num tom pensativo, - Montes selvagens que se erguem até perder de vista, cobertos de árvores nunca tocadas por um machado. Vi a luz do sol cintilando num lago e nuvens que se aproximam vindas do oeste. Vi manchas de neve velha e pingentes do tamanho de lanças. Vi até uma águia pairando no céu. Acho que ela também me viu. Acenei para ela. - Viu algum caminho para baixo? - perguntou Jojen. Ela sacudiu a cabeça. - Não. E uma queda livre, e o gelo é tão liso... eu talvez fosse capaz de descer se tivesse uma boa corda e um machado para abrir apoios para as mãos, mas... - ... mas nós não - terminou Jojen. - Não - concordou a irmã. - Tem certeza de que este é o lugar que viu no seu sonho? Talvez estejamos no castelo errado. - Não. O castelo é este. Há um portão aqui. Sim, pensou Bran, mas está bloqueado por pedra e gelo. Quando o sol começou a se pôr, as sombras das torres cresceram e o vento soprou com mais força, fazendo rajadas de folhas secas e mortas crepitar nos pátios. As sombras que se reuniam lembraram a Bran outra das histórias da Velha Ama, a história do Rei da Noite. Tinha sido o décimo terceiro homem a liderar a Patrulha da Noite, dizia ela; um guerreiro que não conhecia o medo. - E esse era o seu defeito - acrescentava —, pois todos os homens devem conhecer o medo. - Sua perdição havia sido uma mulher; uma mulher vislumbrada do topo da Muralha, com a pele branca como a lua e olhos que eram como estrelas azuis. Sem nada temer, ele perseguiu-a, pegou-a e amou-a, embora a pele dela fosse fria como gelo, e quando lhe entregou a sua semente, entregou também sua alma. "Trouxe-a de volta para Fortenoite e proclamou-a rainha e a si o seu rei, e com estranhas feitiçarias prendeu os Irmãos Juramentados aos seus desígnios. Governaram durante treze anos, o Rei da Noite e sua rainha cadáver, até que por fim o Stark de Winterfell e Joramun dos selvagens se aliaram para libertar a Patrulha da servidão. Após a sua queda, quando se descobriu que o Rei da Noite tinha andado fazendo sacrifícios aos Outros, todos os registros que se referiam a ele foram destruídos e até seu nome foi proibido. "Alguns dizem que era um Bolton - concluía sempre a Velha Ama. - Alguns falam de um Magnar de Skagos, outros dizem Umber, Flint ou Norrey. Alguns querem nos convencer de que era um Woodfoot, membro da família que governava a Ilha dos Ursos antes da chegada dos homens de ferro. Mas não era. Era um Stark, o irmão do homem que o derrubou. - Então dava sempre um beliscão no nariz de Bran, ele nunca esqueceria disso. - Era um Stark de Winterfell, e quem sabe? Talvez seu nome fosse Brandon. Talvez dormisse nesta mesma cama, neste mesmo quarto." Não, pensou Bran. Mas caminhou por este castelo, onde vamos dormir esta noite. Não gostava nada daquela idéia. "O Rei da Noite era apenas um homem à luz do dia" dizia sempre a Velha Ama, "mas a noite era por ele governada". E está ficando escuro, Os Reed decidiram dormir nas cozinhas, um octógono de pedra com uma cúpula quebrada. Parecia oferecer melhor abrigo do que a maior parte dos outros edifícios, apesar de um represeiro retorcido ter aberto caminho através do chão de ardósia ao lado do gigantesco poço central, se estendendo, inclinado, para o buraco no telhado, com os ramos brancos como ossos se esticando para o sol. Era uma árvore estranha, mais esguia do que qualquer outro represeiro que Bran tivesse visto e desprovida de rosto, mas pelo menos fazia-o sentir que os deuses estavam ali com ele. Era a única coisa de que gostava nas cozinhas, porém. O telhado estava lá, na maior parte, então se manteriam secos caso chovesse, mas não parecia que conseguiriam ficar quentes ali dentro. Era possível sentir o frio se infiltrando através do chão de ardósia. Bran também não gostava das sombras, ou dos enormes fornos de tijolo que os rodeavam como bocas abertas, ou dos enferrujados ganchos para carne, ou das cicatrizes e manchas que via na mesa de açougueiro, junto à parede. Foi ali que o Cozinheiro Ratazana cortou o príncipe em pedaços, compreendeu, e ele assou o empadão num daqueles fornos. Mas o poço era aquilo de que menos gostava. Tinha uns bons três metros e meio de diâmetro, era todo de pedra, com degraus esculpidos nas paredes, descendo em círculos, cada vez mais para baixo, até se perderem nas trevas. As paredes eram úmidas e estavam cobertas de salitre, mas nenhum deles conseguiu ver a água no fundo, nem mesmo Meera com seus penetrantes olhos de caçadora, — Talvez não tenha fundo - disse Bran com incerteza. Hodor espreitou por sobre a borda do poço, que batia na altura do joelho, e disse: - HODOR.' - a palavra ecoou poço abaixo, "Hodorhodorhodorhodor", cada vez mais tênue, "hodorhodorhodorhodor", até se tornar menos do que um murmúrio. Hodor pareceu surpreendido. Então riu e dobrou-se para tirar um pedaço quebrado de ardósia. - Hodor, não! - disse Bran, mas tarde demais. Hodor atirou a ardósia por sobre a borda. - Não devia ter feito isso. Não sabe o que há lá embaixo. Podia ter machucado alguma coisa ou... ou acordado alguma coisa. Hodor olhou-o com uma expressão inocente. - Hodor? Muito, muito, muito embaixo, ouviram o som da pedra ao encontrar água. Não foi um tchap, não propriamente. Foi mais um glup, como se o que quer que estivesse lá embaixo tivesse aberto uma trêmula boca gélida para engolir a pedra de Hodor. Tênues ecos viajaram poço acima, e por um momento Bran pensou ouvir algo se mover, sacudindo-se de um lado para o outro, na água. - Talvez não devêssemos ficar aqui - disse, inquieto. -Junto ao poço? - perguntou Meera. - Ou em Fortenoite? - Sim - disse Bran. Ela soltou uma gargalhada e mandou Hodor ir buscar lenha. Verão também foi. A essa altura já era quase noite, e o lobo gigante queria caçar. Hodor retornou sozinho com ambos os braços carregados de madeira morta e galhos quebrados, Jojen Reed pegou a sua pederneira e a faca e tratou de acender uma fogueira enquanto Meera desossava o peixe que tinha apanhado no último riacho por onde passaram. Bran perguntou a si mesmo quantos anos teriam transcorrido desde que houve pela última vez um jantar preparado nas cozinhas de Fortenoite. Também perguntou a si mesmo quem o teria preparado, embora talvez fosse melhor não saber. Quando as chamas já ardiam bem, Meera pôs o peixe no fogo. Pelo menos não é um empadão de carne. O Cozinheiro Ratazana tinha feito com o filho do rei ândalo um grande empadão com cebolas, cenouras, cogumelos, montes de pimenta e sal, uma fatia de bacon e um escuro vinho tinto de Dorne. Depois, serviu-o ao pai dele, que elogiou o sabor e pediu para repetir. Mais tarde, os deuses transformaram o cozinheiro numa monstruosa ratazana branca que só podia comer os próprios filhos. Desde então, vagueava por Fortenoite, devorando os filhos, mas sua fome ainda não estava saciada. - Não foi por assassinato que os deuses o amaldiçoaram - dizia a Velha Ama - nem por servir ao rei ândalo o filho num empadão. Um homem tem direito à vingança. Mas matou um hóspede sob o seu teto, e isso os deuses não podem perdoar. - Devíamos dormir - disse solenemente Jojen, depois de encherem a barriga. A fogueira queimava baixa. Avivou-a com um pedaço de madeira. - Talvez tenha outro sonho verde para nos mostrar o caminho. Hodor já estava enrolado e roncando ligeiramente. De tempos em tempos agitava-se sob o seu manto e choramingava qualquer coisa que podia ser "Hodor". Bran arrastou- -se para mais perto da fogueira. O calor era agradável, e o suave crepitar das chamas acalmou-o, mas o sono não queria vir. Lá fora, o vento mandava exércitos de folhas mortas marchar pelos pátios e fazia-os arranhar levemente as portas e janelas. Os sons fizeram-no pensar nas histórias da Velha Ama. Quase conseguia ouvir as fantasmagóricas sentinelas chamando umas pelas outras no topo da Muralha e soprando seus fantasmagóricos berrantes de guerra. O pálido luar entrava de viés pelo buraco na cúpula, pintando os ramos do represeiro que se esticavam para o teto. Parecia que a árvore estava tentando pegar a lua e atirá-la no poço. Deuses antigos, orou Bran, se me escutam, não enviem um sonho esta noite. Ou se o fizerem, façam com que seja um sonho bom. Os deuses não responderam. Bran obrigou-se a fechar os olhos. Talvez até tivesse dormido um pouco, ou talvez estivesse apenas dormitando, flutuando daquela maneira característica de quando se está meio acordado e meio dormindo, tentando não pensar no Machado Louco, no Cozinheiro Ratazana, ou na coisa que chegava na noite. Então ouviu o ruído. Seus olhos se abriram. O que foi isso? Segurou a respiração. Terei sonhado? Estaria tendo um estúpido pesadelo? Não queria acordar Meera e Jojen por causa de um pesadelo, mas,., ali... um leve som de arrastar, distante... Folhas, são folhas restolhando nas paredes lá fora e raspando umas nas outras... ou o vento, podia ser o vento... Mas o som não vinha lá de fora. Bran sentiu que os pelos de seus braços começavam a se eriçar. O som está aqui dentro, está aqui conosco, e está ficando mais alto. Apoiou-se num cotovelo, à escuta. Havia vento, e também folhas por ele sopradas, mas isso era outra coisa. Passos. Alguém vinha naquela direção. Algo vinha naquela direção. Sabia que não eram as sentinelas. As sentinelas nunca abandonavam a Muralha. Mas podia haver outros fantasmas em Fortenoite, fantasmas ainda mais terríveis. Lembrou-se do que a Velha Ama disse do Machado Louco, de como ele tinha tirado as botas e percorrido os salões do castelo de pés descalços, na escuridão, sem soltar um som que indicasse onde estava, exceto as gotas de sangue que caíam do machado, dos cotovelos e da ponta de sua barba vermelha e úmida. Ou talvez não fosse o Machado Louco, talvez fosse a coisa que chegava na noite. Todos os aprendizes a tinham visto, dizia a Velha Ama, mas depois, quando contaram ao seu Senhor Comandante, todas as descrições mostraram-se diferentes. E três morreram naquele ano, e o quarto enlouqueceu, e cem anos mais tarde, quando a coisa regressou, os aprendizes foram vistos aos tropeções atrás dela, acorrentados. Mas isso era apenas uma história, Só estava assustando a si mesmo. Não existia coisa alguma que chegava na noite, foi Meistre Luwin que disse. Se algo assim tivesse existido, desaparecera do mundo, como os gigantes e os dragões. Não é nada, pensou Bran. Mas os sons agora eram mais altos. Vem do poço, compreendeu. Isso deixou-o ainda mais assustado. Algo vinha subindo de debaixo do chão, vinha subindo da escuridão, Hodor acordou-o. Acordou-o com aquele estúpido pedaço de ardósia, e agora vem aí. Era difícil ouvir por sobre os roncos de Hodor e o trovejar do próprio coração. Seria o som que o sangue fazia ao pingar de um machadof Ou seria o tênue e distante retinir de algemas fantasmagóricas? Bran escutou com mais atenção. Passos. Eram passos com certeza, cada um ligeiramente mais alto do que o anterior. Mas não conseguia identificar quantos eram. O poço fazia os sons ecoar. Não ouvia nada pingando, e também não ouvia correntes, mas havia algo mais... um som agudo, frágil e lamuriento, como que emitido por alguém com dores, e uma respiração pesada e abafada. Mas os passos eram mais altos. Os passos se aproximavam. Bran estava assustado demais para gritar. A fogueira reduzira-se a algumas brasas fracas e todos os seus amigos encontravam-se adormecidos. Quase saiu de sua pele e foi em busca do lobo, mas Verão podia estar a quilômetros de distância. Não podia deixar os amigos na escuridão, impotentes para enfrentar o que quer que viesse subindo o poço. Eu disse-lhes para não vir para cá, pensou, infeliz. Eu disse-lhes que havia fantasmas. Eu disse-lhes que devíamos ir para Castelo Negro. Para Bran, os passos soavam pesados, lentos, imponentes, raspando contra a pedra. Deve ser enorme. Machado Louco era um homem grande na história da Velha Ama, e a coisa que chegava na noite era monstruosa. Em Winterfell, Sansa disse-lhe que os demônios da escuridão não podiam tocá-lo caso se escondesse por baixo da manta. Quase fez isso agora, antes de se lembrar de que era um príncipe, e quase um homem-feito. Bran contorceu-se pelo chão, arrastando as pernas mortas atrás de si, até conseguir estender a mão e tocar Meera no pé. Ela acordou de imediato. Nunca conhecera alguém que acordasse tão depressa como Meera Reed, ou que ficasse tão alerta tão rapidamente. Bran pôs um dedo sobre a boca para que ela soubesse que não devia falar. Meera ouviu o som de imediato, Bran podia ver no rosto dela; os passos ecoantes, o tênue choramingar, a respiração pesada. Meera pôs-se em pé sem uma palavra e recolheu as armas. Com a lança de três dentes para caçar rãs na mão direita e as dobras da rede pendendo da esquerda, deslizou descalça para junto do poço. Jojen continuou a dormir, sem perceber nada, enquanto Hodor resmungava e se debatia num sono inquieto. Ela manteve-se nas sombras ao se mover, rodeou o feixe de luz do luar tão silenciosa como uma gata. Bran passou todo o tempo a observá-la, e até ele quase não conseguia ver o tênue reflexo de sua lança. Não posso deixar que ela combata a coisa sozinha, pensou. Verão estava distante, mas... ... deslizou para fora de sua pele e procurou Hodor. Não era como enfiar-se em Verão. Isso era agora tão fácil que Bran quase nem pensava no que estava fazendo. Com Hodor era mais difícil, como tentar enfiar uma bota esquerda no pé direito. Servia mal, e além disso a bota estava assustada, a bota não sabia o que estava acontecendo e tentava afastar o pé. Sentiu o sabor de vômito no fundo da garganta de Hodor, e isso foi quase o bastante para levá-lo a fugir. Mas, em vez disso, contorceu-se e impulsionou-se, sentou-se, pôs as pernas por baixo de si - as enormes e fortes pernas - e levantou-se. Estou em pé. Deu um passo. Estou andando, Era uma sensação tão estranha que quase caiu. Conseguia ver-se no frio chão de pedra, uma coisinha quebrada, mas agora não estava quebrado. Pegou a espada longa de Hodor. A respiração era tão ruidosa quanto o fole de um ferreiro, Do poço veio um lamento, um crich penetrante que o atravessou como uma faca. Uma enorme silhueta negra içou-se das trevas e cambaleou na direção do luar, e o medo subiu tão denso em Bran que, antes mesmo de conseguir pensar em puxar a espada de Hodor como pretendera fazer, viu-se de novo no chão, com Hodor rugindo "Hodor hodor HODOR" como fizera na torre do lago sempre que um relâmpago caía. Mas a coisa que chegara na noite também estava gritando, e se agitando violentamente nas dobras da rede de Meera. Bran viu a lança da garota saltar das trevas para apanhá-la, e a coisa cambaleou e caiu, lutando com a rede. O lamento continuava a sair do poço, agora ainda mais ruidoso. No chão, a coisa negra saltou e lutou, guinchando: - Não, não, não, por favor, NÃO... Meera ficou por cima do homem, com o luar brilhando, prateado, nos dentes de sua lança para rãs. - Quem é você? - exigiu saber. - Sou o SAM - soluçou a coisa negra. - Sam, Sam, sou o Sam, deixe-me sair, você me jurou... - Passou rolando pela poça de luar, agitando-se e deixando-se cair, enredado na rede de Meera. Hodor continuava a gritar "Hodor hodor hodor".

domingo, 27 de março de 2016

14 Frases de "A Tormenta de Espadas" | Game of Thrones


A Tormenta de Espadas, o terceiro livro da série de George R. R. Martin, onde os Sete Reinos já sentem o rigoroso inverno que chega, mas as batalhas parecem estar mais cruéis e impiedosas. Enquanto os Sete Reinos estremecem com a chegada dos temíveis selvagens pela Muralha, numa maré interminável de homens, gigantes e terríveis bestas, Jon Snow, o Bastardo de Winterfell, que se encontra entre eles, divide-se entre sua consciência e o papel que é forçado a desempenhar. Robb Stark, o Jovem Lobo, vence todas as suas batalhas, mas será que ele conseguirá vencer os desafios que não se resolvem apenas com a espada? Arya continua a caminho de Correrrio, mas mesmo alguém tão desembaraçado como ela terá grande dificuldade em ultrapassar os obstáculos que se aproximam. Na corte de Joffrey, em Porto Real, Tyrion luta pela vida, depois de ter sido gravemente ferido na Batalha da Água Negra; e Sansa, livre do compromisso com o homem que agora ocupa o Trono de Ferro, precisa lidar com as consequências de ser a segunda na linha de sucessão de Winterfell, uma vez que Bran e Rickon estariam mortos. No Leste, Daenerys Targaryen navega em direção às terras da sua infância, mas antes ela precisará aportar às desprezíveis cidades dos esclavagistas. Mas a menina indefesa agora é uma mulher poderosa. Quem sabe quanto tempo falta para se transformar em uma conquistadora impiedosa?

Confira agora 14 frases que separamos deste livro pra vocês:


1. Velhas histórias são como velhos amigos. Precisam ser visitadas de tempos em tempos. (Bran Stark)


2. Em Batalha, disciplina vence númeras nove vezes em cada dez.

3. Uma vez que a vaca foi ordenhada, é impossivel voltar com o leite úbre a dentro. (Rainha dos Espinhos)

4. Uma voz pode lhe falar falsidades, mas em muitas vozes há sempre verdade. (Daenerys)

5. Os maiores bobos são com frequencia mais inteligentes do que os homens que riem deles. (Tywin Lannister)

6. Os Deuses dão a cada um de nós habilidades e talentos. Qualquer ato pode ser uma oração, se for feito da melhor maneira possível. (Lady Smallwood)

7. Existe uma ferramenta para cada tarefa e uma tarefa para cada ferramenta. (Tywin Lannister)

8. Por vezes a tempestade sopra tão forte que um homem não tem outra escolha senão baixar suas velas.

9. Medo corta mais profundamente do que a espada. (Ária Stark)

10. Existe uma milha de distância entre a obstinação e a estupidez. (Tywin Lannister)

11. Quanto mais alto um homem escala, mais longa pode ser a queda. (Salladhor Saan)

12. Não importa o quão valente ou brilhante um homem é, se seus comandos não puderem ser ouvidos. (Eddard Stark)

13. Existem dois tipos de pessoas, os jogadores e as peças. (Petyr Baelish)

14. As vezes a estrada mais curta não é a mais segura... feitiçaria é uma espada sem cabo, não há modo seguro de a agarrar.

terça-feira, 22 de março de 2016

O Cavaleiro da Arvore que Ri - O Torneio de Harrenhal pelos olhos de um Cragnomano | Game of Thrones

No terceiro livro de Game Of Thrones, A Tormenta de Espadas, os irmãos Reed contam a Bran Stark uma história do Cavaleiro da Arvore que Ri e sua participação no torneio de Harrenhal. Nesta história dá pra identificar vários personagens, como por exemplo, o pai do Bran, Eddard Stark, seguido dos irmãos, Benjen Stark e Lyanna Stark, os Targaryen, Lannisters e o Howland Reed.

Os fãs levantam várias teorias sobre a identidade do Cavaleiro da Arvore que Ri e as mais plausíveis são que o Cavaleiro pode ser a Lyanna ou o Ned Stark. E por ser descrito com estatura baixa, tem também uma chance de ser o Howland Reed.

PS: Inclusive foi neste torneio que Ned e Rowland ficaram amigos. Na Torre da Alegria Ned fala que só sobreviveu por causa dele.

A seguir, confira a parte do livro que conta esta história:



- Sabem
  • histórias? - perguntou de repente aos Reed.
  • Meera soltou uma gargalhada.
  • - Ah, algumas.
  • - Algumas - admitiu o irmão.
  • - Hodor - disse Hodor, cantarolando.
  • - Podiam contar uma - disse Bran, - Enquanto caminhamos. O Hodor gosta de histórias sobre
  • cavaleiros. Eu também gosto.
  • - Não há cavaleiros no Gargalo - disse Jojen.
  • - Por cima da água - corrigiu a irmã. - Mas os pântanos estão cheios de cavaleiros mortos,
  • - Isso é verdade - disse Jojen. - Andalos e homens de ferro, Frey e outros tolos, todos os
  • orgulhosos guerreiros que tentaram conquistar a Água Cinzenta. Nem um conseguiu encontrá-la.
  • Entram no Gargalo mas não conseguem sair. E mais cedo ou mais tarde tropeçam nos pântanos,
  • afundam-se sob o peso de todo aquele aço e afogam-se lá, em suas armaduras.
  • A imagem de cavaleiros afogados debaixo d agua fez Bran arrepiar-se. Mas não levantou
  • objeções; gostava dos arrepios.
  • - Houve um cavaleiro - disse Meera - no ano da Falsa Primavera. Chamavam-no de Cavaleiro
  • da Árvore que Ri. Esse pode ter sido um cranogmano.
  • - Ou não. - O rosto de Jojen estava salpicado de sombras verdes. - Tenho certeza de que o
  • Príncipe Bran já ouviu essa história uma centena de vezes.
  • - Não - disse Bran. - Não ouvi. E, se tivesse ouvido, não me importaria. Às vezes, a Velha Ama
  • voltava a contar as mesmas histórias, mas nós nunca nos importávamos, desde que fossem boas,
  • Ela costumava dizer que as velhas histórias são como velhos amigos. Temos de visitá-las de vez
  • em quando.
  • - Isso é verdade. - Meera caminhava com o escudo nas costas, afastando do caminho um ramo
  • ou outro com a lança para rãs. Bem quando Bran já começava a achar que ela não ia contar a
  • história, começou: - Num tempo muito distante houve um moço engraçado que vivia no Gargalo.
  • Era pequeno como todos os cranogmanos, mas também era bravo, esperto e forte. Cresceu
  • caçando, pescando e subindo nas árvores e aprendeu toda a magia do meu povo.
  • Bran tinha quase certeza de que nunca ouvira aquela história.
  • - Ele tinha os sonhos verdes, como o Jojen?
  • - Não - disse Meera mas era capaz de respirar lama e correr sobre folhas e transformar a terra
  • em água e a água em terra só com uma palavra murmurada. Sabia falar com as árvores, tecer
  • palavras e fazer castelos aparecerem e desaparecerem.
  • - Gostaria de saber fazer isso - disse Bran em tom de lamento. - Quando é que ele conhece o
  • cavaleiro da árvore?
  • Meera fez-lhe uma careta.
  • - Mais depressa, se um certo príncipe ficasse calado.
  • - Estava só perguntando.
  • - O rapaz conhecia as magias dos pântanos - prosseguiu ela -, mas queria mais. É que o nosso
  • povo raramente viaja para longe de casa. Somos gente pequena, e nossos costumes parecem
  • estranhos para certas pessoas, de modo que as pessoas grandes nem sempre nos tratam bem.
  • Mas esse rapaz era mais ousado do que a maioria, e um dia, depois de chegar à idade adulta,
  • decidiu que iria deixar os pântanos para visitar a Ilha das Caras.
  • - Ninguém visita a Ilha das Caras - questionou Bran. - E onde vivem os homens verdes.
  • - Eram os homens verdes que ele queria encontrar. Portanto vestiu uma camisa com escamas
  • de bronze cosidas a ela, como a minha, pegou um escudo de couro e uma lança de três dentes,
  • como os meus, e desceu o Ramo Verde remando num pequeno barco de casco de couro.
  • Bran fechou os olhos para tentar ver o homem em seu pequeno barco de casco de couro. Na
  • sua cabeça, o cranogmano parecia-se com Jojen, só que mais velho e forte e vestido como Meera.
  • - Passou por baixo das Gêmeas de noite, para que os Frey não o atacassem, e quando chegou
  • ao Tridente, saiu do rio, pôs o barco na cabeça e começou a caminhar. Demorou muitos dias, mas
  • por fim chegou ao Olho de Deus, atirou o barco no lago e remou até a Ilha das Caras.
  • - E encontrou os homens verdes?
  • - Sim - disse Meera -, mas essa é outra história, e não cabe a mim contá-la. O meu príncipe
  • pediu cavaleiros.
  • - Homens verdes também são bons.
  • - São mesmo - concordou ela, mas nada mais disse sobre eles. - O cranogmano ficou na ilha
  • durante todo esse inverno, mas quando a primavera desabrochou, ouviu o grande mundo a
  • chamá-lo e soube que era hora de partir. Seu barco de couro estava exatamente no local onde o
  • deixara, por isso fez suas despedidas e remou para terra firme. Remou e remou, e por fim viu as
  • distantes torres de um castelo erguendo-se junto ao lago. As torres subiam cada vez mais, à
  • medida que ia se aproximando da margem, até que ele percebeu que aquele devia ser o maior
  • castelo do mundo inteiro.
  • - Harrenhal! - compreendeu Bran de imediato, - Era Harrenhal!
  • Meera sorriu.
  • - Seria? À sombra das suas muralhas viu tendas de muitas cores, brilhantes estandartes
  • balançando ao vento, e cavaleiros vestidos de cota de malha ou de placas de aço e montados em
  • cavalos couraçados. Sentiu o cheiro de carne assando e ouviu o som de risos e o clangor das
  • trombetas dos arautos. Um grande torneio estava prestes a começar, e tinham vindo campeões de
  • todo o território para conquistá-lo. O próprio rei encontrava-se presente, com seu filho, o
  • príncipe-dragão. As Espadas Brancas tinham vindo, para receber um novo irmão em suas fileiras.
  • O senhor da tempestade andava por lá, bem como o senhor da rosa. O grande leão do rochedo
  • tinha brigado com o rei e acabou se mantendo afastado, mas muitos de seus vassalos e cavaleiros
  • compareceram mesmo assim. O cranogmano nunca vira tamanha pompa, e sabia que talvez
  • nunca mais voltaria a ver coisa igual. Parte de si nada mais desejava do que participar daquilo.
  • Bran conhecia bastante bem essa sensação. Quando era pequeno, só sonhava em ser um
  • cavaleiro. Mas isso fora antes de cair e perder as pernas,
  • - A filha do grande castelo reinava como rainha do amor e da beleza quando o torneio começou.
  • Cinco campeões tinham jurado defender a sua coroa; seus quatro irmãos de Harrenhal e seu tio
  • famoso, um cavaleiro branco da Guarda Real.
  • - Era uma donzela bela?
  • - Era - disse Meera, saltando sobre uma pedra -, mas havia outras ainda mais belas. Uma era a
  • esposa do príncipe-dragão, que havia trazido uma dúzia de damas de companhia para servi-la.
  • Todos os cavaleiros lhe suplicavam favores para atar em volta de suas lanças.
  • - Isso não vai ser uma daquelas histórias de amor, não é? - perguntou Bran, desconfiado. - O
  • Hodor não gosta lá muito dessas.
  • - Hodor - disse Hodor, concordando.
  • - Ele gosta das histórias em que os cavaleiros lutam com monstros.
  • - As vezes os monstros são os cavaleiros, Bran. O pequeno cranogmano caminhava pelo
  • campo, desfrutando do dia quente de primavera e sem fazer mal a ninguém, quando foi atacado
  • por três escudeiros, Nenhum deles tinha mais de quinze anos, mesmo assim eram maiores do que
  • ele, todos os três. Do modo como viam as coisas, aquele mundo era deles, e o cranogmano não
  • tinha o direito de estar lá. Roubaram sua lança e atiraram-no ao chão, e o chamaram de papa-rãs,
  • - Eram Walder? - parecia algo que o Pequeno Walder Frey poderia ter feito.
  • - Nenhum deles disse o nome, mas ele guardou bem seus rostos na memória, para que
  • pudesse se vingar mais tarde. Derrubaram-no toda vez que tentou se levantar, e chutaram-no
  • quando se enrolou sobre si mesmo no chão. Mas então ouviram um rugido. "Esse que chutam é
  • vassalo de meu pai", uivou a loba.
  • - Uma loba com quatro patas, ou com duas?
  • - Duas - disse Meera. - A loba meteu-se no meio dos escudeiros com uma espada de torneio,
  • fazendo-os debandar. O cranogmano estava machucado e ensangüentado, por isso ela levou-o
  • para a sua toca, para limpar as feridas e cobri-las com linho. Aí, ele conheceu os irmãos de matilha
  • dela: o lobo selvagem que os liderava, o lobo calado ao seu lado e o lobinho que era o mais novo
  • dos quatro.
  • "Nessa noite, haveria um banquete em Harrenhal, para anunciar a abertura do torneio, e a loba
  • insistiu em que o rapaz comparecesse. Ele era de elevado nascimento, com tanto direito a um
  • lugar no banco como qualquer outro homem. Não era fácil contrariar aquela donzela-lobo, e assim
  • ele deixou que o jovem lobinho lhe arranjasse um traje adequado para um banquete real e
  • dirigiu-se ao grande castelo.
  • "Comeu e bebeu sob o teto de Harren, com os lobos e também com muitas das espadas a eles
  • juramentadas, homens das terras acidentadas, e também alces, ursos e tritões. O príncipe-dragão
  • cantou uma canção tão triste que fez a donzela-lobo soluçar, mas quando o seu irmão lobinho
  • caçoou dela por chorar, ela derramou vinho na cabeça dele. Um irmão negro interveio, pedindo aos
  • cavaleiros para se juntarem à Patrulha da Noite. O senhor da tempestade derrotou o cavaleiro dos
  • crânios e beijos numa batalha de copos de vinho. O cranogmano viu uma donzela com sorridentes
  • olhos púrpuras dançando com uma espada branca, uma serpente vermelha e o senhor dos grifos,
  • e por fim com o lobo silencioso... mas só depois que o lobo selvagem falou com ela em nome do
  • irmão, que era tímido demais para sair de seu banco.
  • "No meio de toda aquela alegria, o pequeno cranogmano vislumbrou os três escudeiros que o
  • tinham atacado. Um deles servia um cavaleiro forquilha; outro, um porco- -espinho, enquanto o
  • terceiro assistia um cavaleiro com duas torres em seu sobretudo, um símbolo que todos os
  • cranogmanos conhecem bem."
  • - Os Frey - disse Bran. - Os Frey da Travessia.
  • - Então, assim como agora - concordou ela. - A donzela-lobo também os viu e mostrou-os aos
  • irmãos. "Podia arranjar-lhe um cavalo e uma armadura que talvez servisse", ofereceu o lobinho, O
  • pequeno cranogmano agradeceu, mas não respondeu. Tinha o coração dividido. Os cranogmanos
  • são menores do que a maioria dos homens, mas igualmente orgulhosos. O rapaz não era
  • cavaleiro, nenhum dos seus era. Sentamo-nos mais freqüentemente num barco do que num
  • cavalo, e nossas mãos são feitas para remos, não para lanças. Por mais que desejasse obter sua
  • vingança, temia não fazer mais do que papel de bobo, envergonhando seu povo. O lobo silencioso
  • ofereceu ao pequeno cranogmano um lugar em sua tenda naquela noite, mas este, antes de
  • dormir, ajoelhou-se na margem do lago, olhando por sobre a água para onde a Ilha das Caras
  • deveria estar, e proferiu uma prece aos deuses antigos do Norte e do Gargalo...
  • - Seu pai nunca lhe contou essa história? - perguntou Jojen.
  • - Era a Velha Ama quem contava histórias. Meera, continue, não pode parar aí.
  • Hodor devia sentir o mesmo.
  • - Hodor - disse, e depois: - Hodor hodor hodor hodor.
  • - Bem - disse Meera -, se quer ouvir o resto...
  • - Sim. Conte.
  • - Estavam planejados cinco dias de justas - disse ela. - Também haveria uma grande luta corpo
  • a corpo entre sete equipes, e torneios de tiro ao alvo e arremesso de machados, uma corrida de
  • cavalos e um torneio de cantores...
  • - Isso tudo não interessa. - Bran contorceu-se impacientemente no cesto que o prendia às
  • costas de Hodor, - Conte o que aconteceu nas justas.
  • - As ordens de meu príncipe. A filha do castelo era a rainha do amor e da beleza, com quatro
  • irmãos e um tio para defendê-la, mas todos os quatro filhos de Harrenhal foram derrotados no
  • primeiro dia. Os vencedores tiveram breves reinados como campeões, até serem, por sua vez,
  • derrotados. Aconteceu que, no fim do primeiro dia, o cavaleiro do porco-espinho conquistou um
  • lugar entre os campeões, e na manhã do segundo dia o cavaleiro da forquilha e o cavaleiro das
  • duas torres também saíram vitoriosos. Mas, ao fim da tarde desse segundo dia, quando as
  • sombras se tornavam longas, um misterioso cavaleiro surgiu na liça.
  • Bran assentiu com a cabeça, com ar sabedor. Cavaleiros misteriosos apareciam freqüentemente
  • nos torneios, com elmos que escondiam seus rostos, e escudos ora vazios ora
  • ostentando um símbolo estranho qualquer. Às vezes eram campeões famosos sob disfarce. O
  • Cavaleiro do Dragão certa vez ganhara um torneio como o Cavaleiro das Lágrimas, para poder
  • nomear a irmã rainha do amor e da beleza no lugar da amante do rei. E Barristan, o Ousado, vestiu
  • por duas vezes uma armadura de cavaleiro misterioso, a primeira quando tinha apenas dez anos,
  • - Aposto que era o pequeno cranogmano.
  • - Ninguém soube - disse Meera -, mas o cavaleiro misterioso era de baixa estatura e usava uma
  • armadura que mal lhe servia, feita de partes avulsas. O símbolo que trazia no escudo era uma
  • árvore-coração dos velhos deuses, um represeiro branco com uma cara vermelha sorrindo.
  • - Talvez tenha vindo da Ilha das Caras - disse Bran. - Era verde? - Nas histórias da Velha Ama,
  • os guardiães tinham pele verde-escura e folhas no lugar dos cabelos. As vezes também tinham
  • chifres, mas Bran não via como o cavaleiro misterioso poderia ter usado um elmo se tivesse
  • chifres. - Aposto que foram os deuses antigos que o enviaram.
  • - Talvez tenham sido. O cavaleiro misterioso saudou o rei com a lança e dirigiu-se para o fim da
  • liça, onde os cinco campeões tinham seus pavilhões. Sabe quais foram os três que ele desafiou.
  • - O cavaleiro do porco-espinho, o cavaleiro da forquilha e o cavaleiro das torres gêmeas. - Bran
  • ouvira histórias suficientes para saber isso. - Era o pequeno cranogmano, bem que eu disse.
  • - Fosse quem fosse, os deuses antigos deram força ao seu braço, O cavaleiro do porco-espinho
  • foi o primeiro a cair, seguido pelo da forquilha e, por fim, o das duas torres foi derrubado. Nenhum
  • deles era apreciado, por isso os plebeus aplaudiram vigorosamente o Cavaleiro da Arvore que Ri,
  • nome pelo qual o novo campeão começou rapidamente a ser conhecido. Quando seus adversários
  • caídos procuraram resgatar cavalos e armaduras, o Cavaleiro da Arvore que Ri falou numa voz
  • trovejante através do elmo:"Ensinem honra aos seus escudeiros, isso será um resgate suficiente".
  • Depois de os cavaleiros derrotados terem punido severamente os escudeiros, seus cavalos e
  • armaduras foram restituídos. E, assim, as preces do pequeno cranogmano foram atendidas.,,
  • pelos homens verdes, pelos deuses antigos ou pelos filhos da floresta, quem saberá?
  • Era uma boa história, decidiu Bran depois de pensar nela por um momento ou dois.
  • - O que aconteceu depois? O Cavaleiro da Arvore que Ri ganhou o torneio e se casou com uma
  • princesa?
  • - Não - disse Meera, - Nessa noite, no grande castelo, tanto o senhor da tempestade como o
  • cavaleiro dos crânios e dos beijos juraram que iriam desmascará-lo, e o próprio rei exortou os
  • homens a desafiá-lo, declarando que o rosto por trás do elmo não era seu amigo. Mas, na manhã
  • seguinte, quando os arautos sopraram suas trombetas e o rei ocupou seu lugar, só dois campeões
  • apareceram. O Cavaleiro da Arvore que Ri tinha desaparecido. O rei ficou furioso, e até mandou o
  • filho, o príncipe-dragão, procurar o homem, mas tudo que encontraram foi seu escudo pintado,
  • abandonado, pendendo de uma árvore. No fim, foi o príncipe-dragão que ganhou o torneio.
  • - Oh. - Bran refletiu um pouco acerca da história. - Foi uma boa história, Mas, em vez dos
  • escudeiros, os três cavaleiros maus deviam ter machucado o homem. Então, o pequeno
  • cranogmano poderia ter matado os três. A parte dos resgates é estúpida. E o cavaleiro misterioso
  • devia ter ganhado o torneio, derrotando todos os que o desafiassem, e nomeado a donzela-lobo
  • rainha do amor e da beleza.
  • - Ela foi nomeada - disse Meera mas essa é uma história mais triste.
  • - Tem certeza de que nunca ouviu essa história antes, Bran? - perguntou Jojen. - O senhor seu
  • pai nunca a contou para você?
  • Bran sacudiu a cabeça. O dia já estava acabando a essa altura, e longas sombras rastejavam
  • pelos flancos das montanhas, enviando dedos negros por entre os pinheiros.
  • Se o pequeno cranogmano pôde visitar a Ilha das Caras, eu talvez também possa. Todas as
  • histórias concordavam em que os homens verdes possuíam estranhos poderes mágicos. Talvez
  • pudessem ajudá-lo a voltar a andar, ou até a transformá-lo num cavaleiro. Transformaram o
  • pequeno cranogmano num cavaleiro, mesmo que só por um dia, pensou. Um dia seria suficiente.