quarta-feira, 24 de junho de 2015

Contos Plus One: Chamada a escuridão

Chamada a escuridão

Já era tarde e estava chovendo muito, motivos o bastante para Samuel rejeitar uma ultima chamada, contudo o dinheiro que Samuel ganhava como taxista mal estava dando para cobrir as despesas da família. O problema era que sua esposa Sarah estava tendo uma gravidez complicada e a poupança que eles tinham feito não foi o suficiente para cobrir os custos do tratamento.

Ele sabia do perigo que estava correndo ao sair a noite, sua profissão lhe ensinou a não duvidar da maldade humana. Samuel não carregava muito dinheiro, pois já havia sido assaltado varias vezes, e desde a ultima vez que isso tinha acontecido, prometeu a sua esposa que não trabalharia mais depois que tivesse escurecido.

“Não precisamos tanto assim de dinheiro, tua vida é mais importante”, eram as palavras daquela mulher que ele amava tanto.

Mesmo sabendo que ela tinha razão, parte dele acreditava que ela dizia isso por ciumes. Sarah sabia que antes dela, varias outras mulheres já tinham sido seduzidas por ele. Foi em uma chamada de táxi que eles se conheceram e depois de algum tempo a levando em seu táxi, ele conseguiu o que queria. Depois de muita conversa, Sarah acabou se entregando a ele também. Mas o que o taxista não esperava era que acabaria se apaixonando perdidamente.

Aproximando-se do lugar combinado, avistou uma figura sombria esperando encostada ao muro tentando abrigar-se da chuva. Olhou melhor e viu que era uma mulher e por um breve instante sua mente divagou em possibilidades de como aquela noite poderia terminar. “Não posso! Eu amo minha mulher, não vou deixar que um passageiro momento de luxuria acabe com nosso relacionamento de que já dura anos.” E sentiu vergonha pelo seu comportamento.

Parou o taxi, abriu a porta e a moça veio correndo agradecida. “Ela está com a roupa toda molhada, vai molhar o assento do meu carro…” não conseguiu concluir o pensamento, pois perdeu-se admirando a roupa molhada colada ao corpo e o movimento dos seios da moça enquanto ela corria. “Eu sou mesmo um pervertido, Sarah me perdoe…”

Quando ela entrou, ele confirmou pelo retrovisor o que já sabia, ela era realmente linda. Descobriu que seu nome era Ana e conversaram durante todo o trajeto. Ela estava muito grata por ele ter vindo tão tarde. “Ela está sendo muito simpática, isso não vai acabar bem”. Parando em frente ao endereço, Ana demorou-se dentro do carro e quando Samuel virou para ver o porque da demora, foi surpreendido com um beijo em sua boca. “Eu vou pro inferno… Sarah, me perdoe…” Quando deu por si, Samuel estava no banco traseiro sem camisa, aos beijos com a jovem que ele tinha acabado de conhecer.

De repente uma luz forte e um solavanco interromperam aquele momento íntimo. Assustado Samuel percebeu que um carro bateu atrás de seu táxi. Ele saiu na chuva para ver o estrago e exigir que pagassem pelo dano, quando foi surpreendido por um revolver apontando para seu rosto. Do carro desceram dois homens ambos armados. O que dirigia o carro era alto e com um porte físico que deixava óbvio o uso de anabolizantes. Ele usava um moletom preto com capuz. O outro homem, mesmo sendo bem mais baixo e magro, era o que realmente assustava. Ele usava um terno fino e tinha um olhar maníaco em seu rosto.

Quando Ana saiu do carro, num piscar de olhos o homem de terno disparou dois tiros, o primeiro acertou o joelho de Samuel, que caiu em agonia no chão. O segundo disparo acerta o rosto da jovem, a deixando com um aspecto macabro o que outrora fora belo.

“Esse foi meu castigo, Sarah me perdoe…” Mesmo com o joelho destruído, Eles obrigaram Samuel a colocar Ana no porta-malas de seu táxi e a guiar para uma ribanceira que ficava próxima de onde estavam. Samuel estava perdendo muito sangue e quase não estava conseguindo permanecer acordado.

Finalmente a perda de sangue fez com que Samuel desmaiasse. Seu peso acelerou ainda mais o carro que caiu ribanceira abaixo dentro de um lago. Quando a água começou a entrar no carro, ele teve o azar de recobrar a consciência e nos últimos minutos de vida que lhe restavam antes de se afogar, uma vez mais ele pensou “Sarah me perdoe…” e a escuridão das profundezas juntou-se a escuridão da noite, a qual sua profissão de taxista lhe havia ensinado que era melhor evitar.



Autor: Saulo Baia Lopes

Um comentário:

  1. Caramba! Tem morte, tem reflexão, tem um lado sombrio e é totalmente demais. Simplesmente amei.

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